A incorporação verdadeira da cultura indígena é uma das questões estruturais do país e se configura uma necessidade, pela manutenção e preservação dos costumes tradicionais seculares, alem da inserção total do cidadão indígena nos setores socioeconômico e político e isso se aplica em especial ao nosso estado de Mato Grosso do Sul com uma população estimada em 64 mil índios e na capital do estado já somos quase 10 mil, sendo a 2ª maior população do Brasil.
Então preconizamos que essas questões estruturais são fundamentais para se compreender, ter respeito e valorizar as diferenciações étnicas e culturais existentes em nosso estado.
A sociedade é sabedora de que ao longo destes 500 anos de opressão e luta, resistência, genocídio as conquistas dos povos indígenas no Brasil e no Mato Grosso do Sul são ínfimas se comparando aos altos índices da sociedade envolvente (não índios) e somos todos sabedores de que o pano de fundo são as práticas discriminatórias que subjugam os indivíduos indígenas como seres inferiores, incapazes, preguiçosos entre outras sacanagens que são ditas o tempo todo, reduzindo lhes as condições de sobrevivências e também as possibilidades de competir no sentido das igualdades com os grupos socialmente privilegiados.
Do ponto de vista lógico e realista das políticas de ações afirmativas as cotas indígenas tornam se uma necessidade tão urgente quanto legitimas para os povos indígenas tanto das aldeias quanto dos índigenas urbanos, pois há uma constante tensão entre a lógica da sociedade envolvente e as políticas internas das aldeias.
Então temos uma condição Sine Qua Non para pensar em políticas de ação afirmativa e que os instrumentos estruturais possam ser criados através de caminhos dos próprios índios ou quem sabe por inspirações dos poderes legislativos, executivo ou judiciário.
Gostaríamos muito que o instrumento cotas fosse algo transitório, esperando o processo de amadurecimento da sociedade dominante na construção de uma democracia justa, igualitária e plena sem preconceitos e exclusões, más nós índios sabemos que isso é algo que esta longe de ser alcançado neste milênio, pois temos pressa e fome de inclusão social e de condições dignas para fortalecermos cada vez mais a nossa autoestima frente ao embate da exclusão e da morte social, cultural, lenta, miserável e silenciosa.
SANDER BARBOSA PEREIRA, Licenciado e Bacharel em Letras pela Uniderp, Presidente do Conselho Municipal dos Direitos e Defesa dos Povos Indígenas de Campo Grande e Coordenador do setorial Indígena/DRPT/MS e Presidente da ONG indígena Centro Social de Cultura Nativa/MS.