11 de Outubro - 2022 23:23
Por; Cultura Nativa - MS
DIVULGAÇÃO DE NOTICIAS E FATOS REFERENTES A CULTURA INDIGENA E AFINS.
22/09/2022 13:14
Regularizar terras indígenas é pacificar conflitos, afirma professor
De um lado, os povos tradicionais ocupam e fazem retomadas; do outro, produtores ameaçados recorrem à Justiça
Por Lucia Morel | 19/04/2022
Guarani e Kaiowá em manifestação em Brasília. (Foto: Laila Mendes e Egon Heck/Cimi) |
Com 48 terras indígenas já identificadas em Mato Grosso do Sul, elas podem até ser milhares de hectares. Mas, no papel, quase metade delas não tem validade na lei. Hoje, Dia dos Povos Indígenas, a pergunta que se faz é: a demarcação é necessária e faz alguma diferença?
Para o doutor em Antropologia, Antônio Hilário Aguilera Urquiza, coordenador do mestrado dessa ciência na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a resposta é sim. A demarcação é positiva para indígenas, para os produtores rurais e para o Estado, porque significa paz.
“Na atualidade, a regularização, a demarcação, significa pacificar. A quem interessa? A todos. Que proprietário gosta de estar em uma terra ou próximo de uma que está em estudo, em insegurança jurídica? Ninguém!”, avalia.
Ele explica que o Estado brasileiro, com sua morosidade em resolver essa questão, impede o encerramento dos conflitos, porque “o produtor também tem seu direito, comprou, usou a terra. Precisa indenizar? Sim, mas resolve, pacifica”, pondera.
Demarcar é viver em área sem conflito e se há conflito (seja ele jurídico ou pessoal) é porque o Legislativo, o Executivo e também o Judiciário não resolveram essa questão, então, todos (indígenas e produtores) tentam resolver isso do jeito deles”, avalia.
De um lado, os povos tradicionais ocupam e fazem retomadas de áreas, muitas vezes, produtivas, mas que foram tradicionalmente ocupadas por seus antepassados e, no outro, há proprietários que, sem garantias e sem segurança da manutenção do seu trabalho, acionam a Justiça ou em alguns casos, agem de forma hostil com os indígenas.
Para se ter uma ideia, entre as 48 terras indígenas de Mato Grosso do Sul, 25 ainda precisam de regularização, entre elas, cinco que já foram declaradas ou delimitadas, mas que devido a ações na Justiça, passam por nova avaliação.
A Ofaié, em Brasilândia, por exemplo, chegou a ser regularizada em 1992, mas houve questionamentos posteriores e, desde então, ainda espera-se a demarcação efetiva. Dados recentes dão conta de que em setembro de 2020, a Funai (Fundação Nacional do Índio) fez o georreferenciamento da área de 2,4 mil hectares, que é a última fase para a regularização efetiva. Nos documentos oficiais do órgão, atualizados em maio do ano passado, no entanto, o espaço aparece como em reestudo.
Outras duas terras importantes e que já haviam sido declaradas são a Taunay/Ipegue em Aquidauana e a Yvy-katu, em Japorã. Nesta última, há até decisão judicial do TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), de 2019, impedindo a reintegração de posse de sete proprietários rurais. No entanto, até o momento, não houve cumprimento da demarcação.
Demarcação – Para que uma terra indígena seja regularizada, uma série de fases precisa ser cumprida, iniciando-se pelos estudos antropológicos, históricos, fundiários, cartográficos e ambientais. Eles fundamentam a identificação e a delimitação da terra indígena.
Em seguida, caso a primeira fase ocorra sem problemas, há a delimitação, que se trata da conclusão dos estudos aprovados pela Presidência da Funai, sendo publicada no Diário Oficial da União e do Estado. Nessa fase, elas se encontram em contraditório administrativo ou em análise pelo Ministério da Justiça, para decisão acerca da expedição de Portaria Declaratória da posse tradicional indígena.
Na próxima etapa, o território deve ser declarado como tradicionalmente indígena e, assim, estará autorizado para demarcação física, com a materialização dos marcos e georreferenciamento.
Na sequência, há a homologação das áreas que possuem os seus limites definidos, materializados e georreferenciados, cuja demarcação administrativa foi homologada por decreto presidencial e, por fim, a regularização que é o registro em cartório em nome da União com o usufruto dos indígenas.
Em Mato Grosso do Sul, segundo a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), a população indígena é de 80.459 habitantes, presentes em 29 municípios e representados por oito etnias: Guarani, Kaiowá, Terena, Kadwéu, Kinikinaw, Atikun, Ofaié e Guató. É a segunda maior população indígena do País.
CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS
Fábio Trad propõe transformar 19 de abril em feriado
A proposta foi protocolada hoje, Dia dos Povos Indígenas, na Câmara Federal
Por Lucia Morel | 19/04/2022
Deputado federal Fábio Trad. (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados) |
O deputado federal Fábio Trad (PSD) propõe transformar o 19 de abril, data em que se comemora o Dia dos Povos Indígenas, em feriado. A proposta foi protocolada hoje, mesmo dia da comemoração, na Câmara Federal.
Para o deputado, caso aprovado, o feriado vai propiciar um momento de reflexão sobre os povos indígenas e seus direitos. “Mais do que uma homenagem, trata-se de uma estratégia de luta por terra, moradia, saúde, educação”, disse.
Trad ainda comentou que a data passará a ser, ainda “uma oportunidade para todos refletirem e se conscientizarem sobre a importância do respeito aos direitos dos povos indígenas”.
Mato Grosso do Sul possui a terceira maior população indígena do Brasil, atrás somente de Roraima e Amazonas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). São 80.459 indígenas, presentes em 29 municípios e representados por oito etnias: Guarani, Kaiowá, Terena, Kadwéu, Kinikinaw, Atikun, Ofaié e Guató.
Atualmente, usa-se a expressão “Dia dos Povos Indígenas” porque valoriza a diversidade de culturas que há em todos os povos originários da população das Américas, afastando o estereótipo de que todos os povos indígenas são iguais e selvagens.
- CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS
Recordações do espaço quase foram consumidas por chamas de crime impune
Por Tainá Jara | 26/08/2020 10:15
Oca localizada no Bairro Cel. Antonino, onde funcionava o Centro de Cultura Nativa de Mato Grosso do Sul (Foto: Arquivo pessoal) |
Registros escassos quase levaram a repórter que vos escreve a classificar como devaneio infantil o que na verdade era lembrança marcante registrada pelo olhar curioso de criança. A imagem de uma oca enorme em plena periferia de Campo Grande, bem antes das aldeias urbanas existirem oficialmente, não é simples de guardar no baú do esquecimento. A recordação tornou-se fascínio e revelou parte importante da história dos indígenas da Capital.
Rodeado de residências de arquitetura moderna, o número 681 da Rua Uruguaiana, no Bairro Coronel Antonino, quase passa despercebido. O quintal de chão batido, protegido apenas com cerca de arame farpado, destoa do cenário atual, mas traz elementos para recriar o que era apenas memória.
Vigas verticais de madeira se tornaram carvão nas extremidades, mas ainda são capazes de desenhar na imaginação o formato da tradicional habitação indígena. O aspecto da estrutura, escurecidas pelo fogo, trazem a tona o motivo do aparente apagamento do espaço dos registros oficiais e das memórias desatentas.
Guarani-Kaiowá, Sander Barbosa, autou como secretário do denominado Centro de Cultura Nativa de Mato Grosso do Sul (Foto: Silas Lima) |
Consumida pelas chamas, em suspeito ato de intolerância, nunca solucionado, a oca foi ponto de encontro dos indígenas que migraram para cidade entre 1996 a 2005. O guarani-kaiowá Sander Barbosa atuou como secretário no denominado Centro de Cultura Nativa de Mato Grosso do Sul e relembra a importância do espaço na articulação dos indígenas recém-chegados na Capital.
Embora pareça um curto espaço de tempo, diante das centenas ou milhares de anos de história dos povos indígenas no Brasil, a quase uma década de existência da oca deu visibilidade a causa indígena e serviu de embrião para constituir as quatro aldeias oficialmente reconhecidas na cidade. “Chegamos a receber turistas dos Estados Unidos e da Europa”, relembra o professor.
Visitas de estudantes das escolas e universidades da Capital eram quase rotineiras. De acordo com Sander, a intenção era resgatar a cultura dos povos originários.
Além de reuniões para articular as demandas da comunidade, o local funcionava como abrigo para cursos profissionalizantes, confecção de cerâmica de demais artesanatos tradicionais dos terena, guarani-kaiowá e kadiwéu e também abrigava uma pequena biblioteca. Dali nasceu, por exemplo, o Conselho Municipal dos Povos Indígenas.
Impune, mas impulsionador
O incêndio que destruiu o espaço nunca foi solucionado. “O próprio delegado não quis registrar boletim de ocorrência na época”, relembra Sander ao explicar o nível de discriminação a que os indígenas eram submetidos desde então.
Após o incêndio, travou-se uma briga judicial pela posse do terreno cedido para organização não-governamental constituída pelos indígenas. Apesar da entidade vencer na Justiça, a área ainda abriga apenas vestígios de memórias e está longe de ser o ponto de turístico que foi um dia.
Oca ainda em pé e o que restou após incêndio (Fotos: Reprodução e Silas Lima) |
A impunidade, no entanto, serviu de fator motivador para os indígenas. As articulações iniciadas na oca deram origem à primeira aldeia urbana da Capital, a Marçal de Souza, localizada no Bairro Tiradentes.
A comunidade mais recente tem justamente como símbolo marcante a versão moderna da tradicional habitação indígena. A palha de bacuri foi somada a estrutura de metal e alvenaria que hoje constituem o Memorial da Cultura Indígena, onde há exposição e comercialização de artesanatos.
Oficialmente, Campo Grande conta ainda com as aldeias Tarsila do Amaral, Água Bonita e Darcy Ribeiro.
O Censo de 2010, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), contabilizava cerca de 6 mil indígenas vivendo na Capital. A estimativa, no entanto, é que a comunidade já tenha chegado a 12 mil pessoal e seja composta de sete etnias diferentes, comprovando o fortalecimento da comunidade, apesar das dificuldades ainda enfrentadas, já que muitas destas aldeias carecem de infraestrutura adequada e políticas de incentivo a geração de emprego e renda.
CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS
11 de Outubro - 2022 23:23 Por; Cultura Nativa - MS