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29/03/2014 10:30
Do UOL, em São Paulo
Índios que vivem isolados na Floresta Amazônica estariam sofrendo com a exploração de madeira ilegal na fronteira do Acre com o Peru, informou a agência Reuters, nesta sexta-feira (28).
Do UOL, em São Paulo
Índios que vivem isolados na Floresta Amazônica estariam sofrendo com a exploração de madeira ilegal na fronteira do Acre com o Peru, informou a agência Reuters, nesta sexta-feira (28).
Estas tribos que vivem sem contato com o mundo externo teriam que se mover pela pressão dos exploradores.
Segundo a agência, líderes da tribo Ashaninka, que divide território com esta tribo e outras que também são isoladas, pediram ajuda ao governo e a ONGs para controlar o que eles consideram ser uma invasão de suas terras.
As fotos, de 25 de março de 2014, foram feitas sem a autorização da Funai (Fundação Nacional do índio), segundo a assessoria de imprensa do órgão. A assessoria diz que seu departamento jurídico irá processar a agência pelo sobrevoo sem autorização e destaca que locais onde vivem índios sem contato com o mundo externo não são divulgados pela entidade exatamente para respeitar o desejo do indígena de se manter isolado.
A Funai tem registro de cerca de 70 grupos de índios isolados na região da Amazônia.
Nesta área na Terra Indigena Kampa e Isolados não há registro de exploração ilegal de madeira, diz o órgão.
A presença de madeireiros peruanos no Parque Nacional Alto Purus e em reservas territoriais criadas para a proteção dos isolados forçou, em 2007, a migração de um grupo de isolados para as cabeceiras do igarapé Xinane, na Terra Indígena Kampa e Isolados do rio Envira, do lado brasileiro.
É comum os índios de tribos isoladas saquearem casas de outras tribos e de seringueiros e agricultores que vivem no entorno de terras indígenas. A Funai, para evitar os saques e possíveis conflitos, realiza sobrevoos das áreas das tribos isoladas e lança machados e outros utensílios.
Políticas de proteção
Na última segunda-feira (24), foi formalizada, em Lima, no Peru, uma cooperação entre a Fundação Nacional do Índio e o Ministério de Cultura peruano para a proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas isolados e recém-contatados que vivem nas regiões de fronteira dos dois países.
Ao longo deste ano, equipes especializadas deverão realizar sobrevoos e expedições na mata nessas regiões, a fim de sistematizar informações que permitam compreender as dinâmicas territoriais desses povos, bem como as pressões externas e vulnerabilidades a que estão sujeitos.
Em 2009, a Funai e o governo do Acre ampliaram a política de proteção a grupos indígenas não contactados, como são chamadas as tribos isoladas. Incursões realizadas pelo órgão em 2008 e 2009 ao alto rio Envira confirmaram que há uma intensa movimentação de índios isolados na fronteira do Brasil, no Estado do Acre, com o Peru.
A população dos isolados, estimada pelo sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, dobrou nos últimos anos por conta, principalmente, da demarcação de terras indígenas e da política de proteção.
Em 2004, o próprio sertanista foi flechado no rosto, provavelmente por índios temerosos dos brancos que neles atiravam de espingarda durante caçadas na mata.
Desde esse episódio, as políticas oficiais de proteção permitiram que a população dos três grupos de isolados identificados subisse para pelo menos quinhentos índios em 2009. Um quarto povo, caçador e nômade, os Mashco-Piro, percorre amplas extensões da floresta em ambos os lados da fronteira e, no verão, costuma acampar em pequenos tapiris nas praias para coletar ovos de tracajá.
Quem são os isolados?
De acordo com a Coordenação Geral de Índios Isolados (CGII), da Funai, encontrou na época das incursões pelo menos 60 evidências de índios isolados, como são chamados aqueles índios que ainda procuram manter distância das ameaças representadas por diferentes atividades econômicas. Localizados em sua grande maioria na região amazônica, não sabe se ao certo quem são, onde estão, quantos são e que línguas falam.
No Acre, os três grupos que habitam permanentemente no alto rio Envira são provavelmente falantes de idiomas do tronco linguístico Pano.
Sem contar os Mashco-Piro, já são pelo menos quinhentas pessoas vivendo em dez malocas (conjunto de cabanas) estabelecidas em diferentes aldeias. Esta pode constituir uma das maiores populações de isolados na Amazônia brasileira e em todo o planeta.
Os principais agrupamentos de malocas estão localizados nas cabeceiras dos igarapés Xinane e Riozinho, afluentes do rio Envira, e na cabeceira do igarapé Paranazinho, afluente do rio Humaitá. As principais malocas estão distantes a mais de 100 quilômetros umas do outro, o que pode indicar de que se trata de povos diferentes.
Os isolados vivem hoje em três terras indígenas demarcadas pela Funai (TI Alto Tarauacá, TI Kampa e Isolados do Rio Envira, e TI Riozinho do Alto Envira), com extensão agregada de 627 mil hectares. Outras seis terras indígenas e o Parque Estadual Chandless são também usados pelos isolados para caçar, pescar e extrair vários produtos da floresta.