Por Carol Alencar
O indígena Marcos Terena está em Campo Grande para articular a vinda dos Jogos Mundiais Indígenas para nossa Capital. Durante a sua passagem por aqui, contou à equipe do Jornal Midiamax um pouco sobre sua experiência enquanto líder indígena.
Dentre os assuntos elencados durante a reportagem, o primeiro, sem dúvida, foi a família.
MARCOS TERENA |
Quando perguntei sobre o número de filhos que tem, logo ele ressaltou: ‘tenho três filhos já crescidos”. São eles: Nahari de 23 anos, Malcov de 24 e Taely de 21 anos.
Os três moram em Brasília, capital onde o indígena escolheu para morar após assumir a gerência do Memorial dos Povos Indígenas, em 2007. Vale lembrar que ele foi o primeiro indígena a assumir um cargo federal.
Os filhos, um antropólogo, outro pianista clássico e professor de história e a caçula estuda estatística são apenas descendentes indígenas, uma vez que a mãe deles, esposa de Marcos, é paraibana. Sobre preconceitos sofridos, Marcos disse que apenas um o incomodava.
“ ‘Você não fala a língua do seu povo?’, este foi um dos preconceitos que meus filhos sofreram no decorrer de suas vidas, o maior deles, porque eu os poupei de vários, aliás, eu os preparei para não passarem pelo que passei”, diz Marcos, que se tornou avô recentemente.
Quanto à luta pela vida, Marcos nos confirmou que nenhum dos filhos entraram na universidade pública a partir de cotas e todos falam até três idiomas – espanhol, inglês e francês. “Eu sempre resgatei o sentido da afirmação... é como uma tradição indígena, de dignidade mesmo”.
Já preconceito para ele está ligado a duas situações.
A primeira é a desinformação agregada de medo e a segunda está na falta de oportunidade que os índios têm. “O medo em si gera a desinformação, o preconceito que as pessoas têm é por pura falta de acesso à informação e consequentemente, acaba atingindo as pessoas inocentes”, avalia Marcos Terena, que tem textos publicados em provas do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio.
Sobre uma retrospectiva de toda sua história e luta, uma das únicas frustrações é não ter um índio na presidência da Funai. “Para mim é mais um outro tipo de preconceito isso, os governantes não confiam em índios e nunca colocariam um indígena num cargo desses”.
E para finalizar o bate-papo com o nosso representante, genuinamente sul-mato-grossense, o tema medo voltou à pauta. “Não tenho medo de mais nada nessa vida, nem da morte porque nós índios fomos preparados para isso... já tive quatro acidente complicados que me tirariam a vida e não temo mais nada quanto a isso”.
Trajetória
Entrou na escola aos 9 anos de idade. Continuou seus estudos, sempre sendo confundido com um descendente de japoneses. Aprendeu o ofício de aviador e entrou para a Força Aérea Brasileira, enfrentando, porém, grande dificuldade em ter sua capacidade profissional reconhecida, em função de os índios, no Brasil, não terem plena capacidade civil. Estudou administração de empresas. É piloto comercial de avião.
Criou um dos primeiros movimentos indígenas modernos do país, a União das Nações Indígenas. Durante a Assembleia Constituinte que redigiu a Constituição Brasileira de 1988, foi um dos articuladores dos direitos indígenas.
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