segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Línguas Indígenas no Brasil e perdas culturais

29/01/2018                                12:20




Artigo


Por, Sander Barbosa Pereira


Antes da chegada do colonizador ao nosso continente, tínhamos uma população indígenas estimada em 5 milhões, falantes de mais de 1200 línguas, depois do contato o resultado que se segue podemos avaliar como dramático e nefasto ao mesmo tempo. 

Pois ao colonizador o mais importante era explorar ao máximo essa colônia ainda inexplorada e levar todas as riquezas para a Europa, dentro desse contexto os habitantes naturais dessas terras os indígenas, iriam pagar um preço muito alto.

 Milhares de vidas ceifadas no que caracterizou – se um dos maiores genocídios das expedições colonizadoras europeias.
Esse preço, 514 anos depois, em pleno século XXI, ainda estamos sentindo esses efeitos devastadores que não cessaram ainda mesmo com os avanços conquistados com a constituição federal de 1988. 

Entendemos o quanto da nossa história se perdeu para sempre sem deixar vestígios ou relatos dessa grande riqueza cultural e também um grandioso patrimônio linguístico.

Essas línguas desapareceram sem deixar vestígios. 
                                                     Provavelmente algumas famílias linguísticas inteiras deixaram de       existir (RODRIGUES, 1999).

Estamos vivendo tempos difíceis em nossa atualidade com centenas de povos indígenas e suas línguas em riscos de extinção, agravados por fatores como a diminuição de membros de determinadas etnias que são falantes do idioma e que não tem a perspectiva de fazer a interação com outros do seu grupo linguístico originário.

Dessa forma uma língua tem um processo real de extinção também pela situação em que ocorre a redução de pessoas de um determinado grupo étnico. 

Em nosso pais sabemos que existem tribos que outrora durante a colonização tinha um contingente considerável e que atualmente em alguns casos mais graves conta apenas com 70 pessoas ou menos e com pouquíssimos indivíduos falando a língua fluentemente.

Podemos citar aqui em nosso estado de Mato Grosso do Sul a situação gravíssima do povo Ofayé na região de Brasilândia, com risco cada vez mais iminente de desaparecer para sempre essa riqueza linguística.

Segundo estudos realizados o quantitativo de uma língua falada tem como parâmetro a marca de 100 mil falantes e abaixo desse índice já corre um risco de avaliação nesse processo de extinção linguística, isso é realmente muito preocupante e precisa urgentemente de maiores atenções das sociedades nacionais e internacionais e com maior responsabilidade da academia.

Em meio a essa diversidade, apenas 11 línguas têm acima de cinco mil falantes: 
    Baniwa, Guajajara, Kaingang, Kayapó, Makuxi, Sateré-mawé, Terena, Ticuna, Xavante, Yanomami e Guarani.  
Em contrapartida, cerca de 110 línguas contam com menos de 400 falantes (SEKI, 1999). 
As demais são línguas em adiantado processo de extinção.  São línguas obsolescentes. Não são faladas cotidianamente por falta de interlocutores. Estão guardadas na mente de pessoas mais idosas que raramente têm oportunidade de usá-las (LUCIANO, 2006).

Essas línguas tem um papel fundamental na manutenção da cultura assim como também exerce papel de grande importância na autoestima desses povos.

Dessa forma urge uma necessidade de buscar a preservação deste imenso patrimônio da humanidade. Atualmente os avanços tecnológicos tem tido um papel bastante animador com vistas e objetivos realmente comprometidos com a questão de não deixar extinguir as línguas destes povos, tendo em vista que grandes partes das línguas indígenas estão em processos muito perigosos de desaparecerem num curto espaço de tempo.

Neste contexto o nosso país o Brasil tem se destacado nesta luta gigantesca, pois existe uma gama de projeto trabalhando neste sentido e dos projetos que reforça esta luta esta a LDB – lei de diretrizes e bases da educação que reforça esse compromisso com a introdução do ensino bilíngue, ainda que de forma bastante lenta, pois esta lei tenta furar o bloqueio ainda do sistema de educação bastante conservador da nossa sociedade envolvente. 

Hoje temos um grande desafio de como contornar esse problema da questão da extinção das línguas em nosso país, pois sabemos que o tempo esta correndo contra nós e precisamos preparar e estruturar pesquisadores e projetos para esta árdua missão.


As tarefas que têm hoje os linguistas brasileiros de documentar, analisar, comparar e tentar reconstruir a história filogenética das línguas sobreviventes é, portanto, uma tarefa de caráter urgente urgentíssimo. Muito conhecimento sobre as línguas e sobre as implicações de sua originalidade para o melhor entendimento da capacidade humana de produzir línguas e de comunicar-se ficará perdido para sempre com cada língua indígena que deixa de ser falada. (RODRIGUES, 1999).

Temos toda a capacidade hoje de resgatar os anciões indígenas outrora também esquecidos e que carregam uma riqueza dentro de si e de fato são um poderoso referencial linguístico que pode estar interagindo não somente internamente com familiares, mas também com outros parentes do mesmo grupo étnico, propiciando ainda o estudo da grafia e do sistema do tronco linguístico, culminando com uma gramatica rica.

Fortalecimento das políticas públicas que garantam escolas com ensino bilíngue e intercultural nas comunidades indígenas, com produção de material pedagógico voltados para a prática da pronunciação e conversação. 

As futuras gerações com certeza estarão agradecidas com a preservação e valorização do legado de seus antepassados, assim poderão usufruir desta herança e continuar a manter viva a chama da cultura indígena com suas diversidades culturais e traços físicos característicos de um povo que já esta resistindo por mais de 514 anos e com certeza querem viver por mais longos séculos.



Sander Barbosa Pereira – Licenciado e Bacharel em Letras – UNIDERP
Pós - graduado em Antropologia e História dos Povos Indígenas - UFMS




Referências

SOUZA, Ilda, Ferreira, Rogério Vicente ed. Uma breve reflexão sobre a diversidades linguísticas e os povos indígenas do Pantanal, Ufms: 2014: Campo Grande – MS.

MOORE, Denny. ; GABAS, N.. O Futuro das Línguas Indígenas Brasileiras.  In: Louis Forline; Ima Vieira; Rui Murrieta.  (Org.). Amazônia além dos 500 Anos. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2006, v., p. 433-454.

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