quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Conhecendo a cosmologia Guarani e Kaiowá




15/02/2018                 10:22




Artigo

Por; Sander Barbosa Pereira


A grande população kaiowá do subgrupo do Guarani do estado de Mato Grosso do Sul ocupa áreas situadas na faixa de fronteiras do nosso país com o Paraguai entre as suas características alimentares tem como base a caça como principal fonte de proteínas, além da prática da agricultura e a pesca.

Segundo  Brand  (1997:  01),  a  população guarani (Kaiowá e Ñandeva) em MS,  “está distribuída em 22 áreas indígenas e é estimada em  25  mil  pessoas”.

Em sua organização social os kaiowá tem uma forte característica de fortalecimento do parentesco com a tradição do fogo doméstico – Che ipyky Kuera que demonstra uma referencia aos parentes mais próximos que caracteriza uma fraternidade entre seus pares.

Além de reunir o patriarca da família, seus filhos e filhas e esposa juntamente com os filhos adotivos (guachos) isso reforça a prática da reciprocidade entre ambos. O fogo doméstico é essencial nestas relações sociais, ou seja, é ponto focal de qualquer relação social.

A parentela Tey ´yi tem como núcleo central um grupo de parentes cognativos.  Segundo Watson (1952: 33) afirma que “a família extensa intimamente relacionada com outros aspectos da cultura kaiowá notadamente como sistema de parentesco, a organização econômica e a arquitetura indígena e a típica unidade de residência, o Tapyi (t do a)”.

Esse grupo de parentela tem a exata noção do sentido do território, neste contexto a parentela tem um esteio o Hi´u, ou seja, a raiz da casa que reúne e aglutina esses grupos de residências sendo eles, atuação econômica, atuação politica.

Watson (1952), Schaden (1974) e Brand (1993, 1997), utilizam o termo “família extensa” para o que denomino parentela.

óg puhu, ogajekutu ou ogapysy é uma referencia a uma grande casa onde as parentelas residiam.
Outro ponto de destaque é referente ao território denominado de Tekoha ou seja Teko – sistema de valores éticos e morais, natureza, já a terminologia Ha indica local.

Tradicionalmente o Tekoha é o centro da organização social dos kaiowá onde residem as maiores parentelas e também os menores grupos, dentro dos Tekoha há a predominância da solidariedade entre os parentes.

 Existindo também certo grau de instabilidade o que de fato é algo que aflora no cotidiano e que ao final acaba fortalecendo suas próprias existências sociais.
Segundo Brand “É entre os fogos que compõe a parentela que continua se dando a estrita reciprocidade Oreva (Brand, 1993:84)”.

Assim oreva esta voltado para o interior da parentela e pavêm como ponto de estabelecimento das relações entre parentelas.

Os princípios ore e  pavêm foram resumidos por Brand na seguinte forma.

Segundo o texto, um corresponde ao tekoha, base social, política e religiosa dos Pãi atuais, que se manifesta nas festas religiosas, nas decisões políticas formais e em caso de conflitos externos ou ameaças vindas do sobrenatural; e outro, corresponde à família extensa (e seus núcleos locais), que se manifesta especialmente nas atividades econômicas, na colaboração nos trabalhos das roças comuns e construção de casas” (Brand, 1993:113-114).[1]

Neste mesmo contexto o autor deste artigo faz a reformulação dos princípios ore e pavêm onde se inspiram na descrição dos dois tipos de cooperação, realizada por Grünberg (1975). O princípio ore está voltado para o interior da parentela e o pavêm voltado para o estabelecimento das relações entre as parentelas que formam um tekoha.

Nota de rodapé


[1] (Brand, 1993:113-114).[1] Esta comparação mostra a real diferença entre as características do Orê e Pavêm

Assim os tekoha tem uma grande dependência do sentido pavêm que consiste na existência dos lideres religiosos e políticos que busca abranger com bastante habilidade outras relações com outros fogos saindo de seu interior único e exclusivo.

Outro ponto muito importante é a questão do modelo de estrutura social, pois a formulação deste modelo causa pensamentos diferentes tais como modelo de estrutura social proposto pelo pesquisador e a realidade social, sua composição procura se guiar pelas categorias que os membros da sociedade empregam para ordenar e significar as relações sociais que estabelecem.

Entretanto Lech define a estrutura  social,  um  termo reconhecidamente  extemporâneo,  é  aqui  entendida  como  uma  construção  lógica  e não como um dado empírico (Leach [1954] 1996: 68-69).
Portanto a estrutura social carrega os valores de ordem parental e religiosos de forma organizada e estruturada, como bem diz este artigo que diz que os sistemas Ore e Pavêm subjazem tanto a ordem morfológica e cosmológica.

Este é o modo de ser e viver do povo Kaiowá seja no seu modo de parentela ou politico e religioso, mantendo suas tradições e costumes apesar da grande adversidade a que estão submetidos atualmente.

Este povo apenas quer voltar aos Tekohá de ocupações tradicionais e cultuar firmemente esta riqueza cultural do nosso estado de Mato Grosso do Sul e do  grande e imenso Brasil.




Sander Barbosa Pereira – Licenciado e Bacharel em Letras – UNIDERP
Pós - graduado em Antropologia e História dos Povos Indígenas - UFMS




Referências

Aguilera Urquiza, Antônio Hilário, Pereira, Levi Marques, Prado, José Henrique, CAPÍTULO IV – Antropologia e Parentesco
Artigo, O território e a organização social kaiowá: inter-relações entre séries sociológicas e séries cosmológicas, Levi Marques Pereira


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