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09/11 /2012 22:00
Índios choram durante o ato Foto: Luiz Roberto Lima/Futura Press
Índios choram durante o ato Foto: Luiz Roberto Lima/Futura Press
Os índios da Aldeia Maracanã, uma ocupação em um prédio antigo próximo ao histórico estádio de futebol do Rio de Janeiro, realizaram nesta sexta-feira um ato em apoio ao povo guarani-kaiowá e contra a demolição de seu espaço, ameaçado pelas obras da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio-2016.
Apoiados por membros de movimentos sociais e culturais, indígenas de diversas etnias manifestaram apoio à tribo dos guarani-kaiowá, do Mato Grosso do Sul que, acampados à beira de uma estrada desse Estado, reivindicam a demarcação de suas terras ancestrais.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica, indica que pelo menos 12 líderes guarani-kaiowá foram mortos na última década por pistoleiros contratados por proprietários de terras.
Para Suzana Samaiego, índia guarani-kaiowá que foi ao Rio visitar seus filhos e participar do ato, a maior dificuldade é resistir e "lutar por suas terras sem o apoio de ninguém" e em meio à violência. Ela conta que uma de suas sobrinhas foi estuprada e morta por homens armados e nada foi feito em relação aos culpados.
Recentemente, esta comunidade declarou em uma carta, que circulou o mundo inteiro, que estava disposta a ter uma "morte coletiva" para não abandonar suas terras. Já os índios que ocupam este prédio construído no coração do Rio de Janeiro, que já abrigou o antigo Museu do Índio, defendem o direito de permanecer no local, que foi ocupado há mais de seis anos e transformado desde então em um centro de cultura indígena, já que o governo do Estado anunciou sua intenção de demolir o edifício histórico para as obras da Copa de 2014.
Carlos Tucano, cacique da Aldeia Maracanã, explicou a situação das tribos que ocupam o local. "Estamos aqui para dizer ao Brasil e ao mundo quem somos nós, trazendo a nossa história que nunca foi respeitada (...), mas com o anúncio da Copa do Mundo de 2014 estamos nos sentindo ameaçados de expulsão.
Não somos contra os eventos esportivos, apenas reivindicamos o nosso espaço", disse
Em declarações concedidas no mês passado, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), afirmou que "o Museu do Índio, perto do Maracanã, será demolido. Vai virar uma área de mobilidade e de circulação de pessoas. É uma exigência da Fifa e do Comitê Organizador Local", embora a Federação Internacional de Futebol tenha negado que tivesse solicitado esta demolição.
"Só sabemos do que as autoridades pensam através da imprensa. É uma pressão psicológica. Nunca ouvimos a voz do governo, do prefeito e de nenhuma autoridade sobre o nosso destino, só sabemos que querem demolir", lamenta Tucano. A esperança do cacique é que "o governo e a Fifa se sensibilizem com a questão dos povos indígenas".
Ele afirmou que os índios estão dispostos a negociar, desde que sejam deslocados para um local digno.
Com cartazes exigindo "respeito à cultura e ao povo indígena", cerca de 200 pessoas participaram do ato. Os índios conseguiram uma primeira vitória no final de outubro com a determinação do juiz Renato César Pessanha de Souza, que determinou que o estado do Rio e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não expulsem os índios, atendendo a um pedido da Defensoria Pública da União.
Além da Aldeia, estão previstas as demolições de duas instalações do complexo esportivo do Maracanã: o estádio de atletismo Célio de Barros e o parque aquático Júlio Delamare.
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