sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Índios ameaçam onda de 'retomadas' em fazendas no sul de MS e temem conflitos

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17/08/2012      20:25
 
Éser Cáceres

Os guarani-kaiowá que aguardam a demarcação de áreas já consideradas terras indígenas pelo governo brasileiro em Mato Grosso do Sul anunciaram novas 'retomadas' de fazendas para os próximos dias em toda a região sul do estado.

Eles acusam o Governo Federal de 'enrolação' e protestam contra a demora do STF (Supremo Tribunal Federal) em julgar o mérito da questão. A decisão das ocupações foi tomada pelo Aty Guasu, espécie de conselho político formado por lideranças e rezadores de diversas aldeias indígenas. No final de julho, um Aty Guasu realizado em Laguna Caarapã, no extremo sul de MS, deliberou pelo fim dos prazos que os índios têm dado para as autoridades e decidiu que as fazendas localizadas dentro das tekohá (como os guarani chamam o ‘espaço onde se vive’, no idioma nativo)devem ser ocupadas.

Em Paranhos, a 477 quilômetros de Campo Grande, um grupo de aproximadamente 200 índios entrou em fazendas que estão na tekohá Arroyo Corá no último dia 10. Nos dois dias anteriores, rezadores e lideranças, além das mulheres das aldeias, estiveram reunidos se preparando para entrar na terra. Outros grupos, segundo eles, devem se reunir isoladamente e decidir o momento de agir em cada região.

“Estamos declarando guerra à enrolação. Aqui é só o começo, mas vão acontecer mais retomadas. Nós não vamos mais ficar paralisados enquanto todo mundo engana o índio com promessas”, avisa Eliseu Lopes, uma das lideranças indígenas que acompanhou a mobilização. Antes da ‘retomada’, os índios divulgaram um manifesto explicando a decisão.

“As nossas crianças e lideranças estão morrendo nas margens da rodovia e nos acampamentos. Não aguentamos mais. Não vamos mais aguardar na margem da BR e nos pequenos acampamentos isolados. Por isso, hoje, 10 de agosto de 2012, começamos a reivindicar o despejo dos fazendeiros que invadiram os nossos territórios tradicionais”.

Conflitos

Tanto índios quanto fazendeiros consideram prováveis novos conflitos na região e culpam a morosidade do poder público em resolver a questão fundiária indígena de Mato Grosso do Sul pela situação. Durante a ação, houve conflito com homens armados e, segundo os índios, um homem identificado como Eduardo Pires, de aproximadamente 50 anos de idade, estaria desaparecido desde então.

A morte de um bebê de nove meses de idade também é considerada pelos guarani como resultado do ataque ao grupo durante a ocupação. A Funai (Fundação Nacional do Índio) confirmou que esteve no local após o conflito e acionou a Polícia Federal e Força Nacional. Policiais recolheram capsulas de projéteis deflagrados e o MPF (Ministério Público Federal) já pediu a instauração de inquérito.

Para os fazendeiros, invasão

Os fazendeiros, no entanto, negam que tenham reagido com armas de fogo e reclamam da ação indígena, que consideram como invasão criminosa. Vergilina Pereira Lopes, de 83 anos de idade, registrou queixa na delegacia de Paranhos contra a ação dos indígenas na fazenda Campina, da qual é dona há 50 anos, como 'esbulho possessório'.

“Se eu tenho a escritura, paguei pela terra, pago impostos, e alguém entra, é invasão. Seja índio ou sem-terra, são invasores até que a justiça decida que os fazendeiros devem entregar a área mesmo”, diz o filho da proprietária. Informações não confirmadas são de que há aproximadamente duas mil cabeças de gado na área que os guarani-kaiowá consideram retomadas.

Os índios exigiram dos fazendeiros a retirada imediata dos animais, mas os produtores dizem que não têm sequer local para colocar a boiada. "Eu entrei nessa terra em 1962. Meus seis filhos nasceram lá e trabalhei a vida toda para construir o que tinha lá dentro. É a segunda vez que os índios invadem.

Há dez anos, até bateram em mim e no meu velho. Agora, o secretário me falou que eles destruíram tudo. É muito complicado guerrear por uma coisa assim", relata a fazendeira.

Revolta perigosa

Até mesmo entre os fazendeiros, o temor é de que a situação acabe com mais violência. "Eu sou uma velha e não vou mexer com isso, mas tem muita gente revoltada demais com essa situação.

 O prejuízo que tem é muito grande e isso não é brincadeira. Isso está cada vez mais perigoso", pondera Vergilina. A região de Arroyo Corá fica a poucos quilômetros do território paraguaio. Em Paranhos, a fronteira é seca e de difícil controle.

Os rumores de que pistoleiros paraguaios seriam contratados pelos fazendeiros para fazer a segurança das fazendas são comuns na cidade. Apesar de afirmarem que estão desarmados, os guarani-kaiowá prometem que vão enfrentar supostos ataques de pistoleiros.

Aproximadamente 200 índios que a reportagem viu no local estão organizando pequenos grupos de barracos onde as famílias se instalam.

Luis Alberto


No detalhe, o líder guarani Eliseu: 'Índios cansaram de esperar e vão agir' Segundo eles, não há segurança alguma na área e o medo de novo ataque é constante.


Alguns se alternam na vigília para avisarem aos demais em caso de aproximações suspeitas.

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