21/07/2011 18h22
Rito ainda segue até sábado, por enquanto médicos não marcaram cirurgia de amputação
Paula Maciulevicius e Ana Paula Carvalho
Rito ainda segue até sábado, por enquanto médicos não marcaram cirurgia de amputação
Paula Maciulevicius e Ana Paula Carvalho
Indígenas fazem ritual de cura e retiram o que estaria desequilibrando a menina. (Foto: João Garrigó)
O ritual de cura que os pajés realizaram nesta tarde, na menina indígena Thiely Mendes, de 8 anos, durou cerca de uma hora. Apesar da saída confiante do trio de curandeiros, a menina vai ter a perna esquerda amputada. O Campo Grande News acompanhou parte do rito onde os curandeiros, em volta da cama, estavam com chocalhos na mão e entoando rezas.
A fé dos indígenas de que o ritual pode curar foi demonstrado nesta tarde, pelos curandeiros João Antônio Fernandes, de 84 anos, Vergília Romeiro de 52 e Aldair Romeiro de 22 anos, que colocaram dentro de um vidro um pequeno objeto de cor verde, que segundo eles havia sido retirado da menina.
Na saída, o trio se mostrou confiante e explicou que o rito busca equilibrar o espírito. Para eles, o que os médicos chamam de doença, é na verdade um desequilíbrio espiritual.
O pajé João Antônio acredita que agora, a menina vai ser curada, mas um parecer definitivo deve sair depois do último dia de ritual, no sábado.
Durante o tempo em que o Campo Grande News esteve no quarto, Thiely ficou quietinha, movimentava os braços, mas não falava, nem chorava. A aparência é de uma criança debilitada por uma doença cruel.
Fotomostra o que foi "retirado" no ritual. os pajés acreditam que doença seja desequilíbrio espiritual. (Foto: João Garrigó)
Quase sem cabelos, Thiely vomitou quando o ritual chegou ao fim.
O avô da criança, Santiago Tapori, de 57 anos, acompanhou toda a movimentação e afirma confiante de que a cura começa agora. “Se Deus quiser, agora ela vai ficar boa”, completa.
Ele ainda disse que acha que a menina deve permanecer no Hospital. Anteriormente a família queria tirar a criança para levar até a aldeia, a 487 quilômetros de Campo Grande, para o ritual.
O médico oncologista Marcelo Souza informou que a criança está fazendo sessões de quimioterapia que devem durar ainda entre duas e três semanas. A cirurgia para amputação da perna esquerda, por conta do tumor no joelho, depende da data a ser acertada com a equipe de cirurgia.
O oncologista foi enfático ao dizer que a menina não tem possibilidade de cura se não ocorrer a amputação e que o tratamento ainda vai seguir por um ano.
Entre enjôos e febres, Thiely está sendo medicada o tempo todo para dor e tomando Morfina.
Segundo o médico, a família já sabe da amputação e a notícia está sendo difícil para todos. Mas ele confirma que os parentes autorizaram a continuidade no tratamento.
Sobre o ritual, o médico admite que por se tratar de uma questão cultural, a prática pode ajudar a menina a ficar mais animada.
O presidente do Conselho da Saúde Indígena, Fernando Souza explica a diferença nas concepções. “Cada um tem sua religiosidade e na questão indígena é um conhecimento tradicional que passa de geração em geração”, ressalta.
Impasse - Familiares de Thiely decidiram interromper o tratamento e levar a menina de volta para Japorã para ser curada por um benzedor. Diagnosticada com um tumor no joelho, a doença foi percebida há dois meses, depois de uma visita dos agentes de saúde à aldeia.
A Casai (Casa de Apoio à Saúde Indígena) e a equipe médica do hospital permitiram que os curandeiros praticassem os métodos de cura durante o tratamento da menina em Campo Grande.
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