terça-feira, 22 de novembro de 2011

Polícia Federal garante à Funai que vai investigar morte de Nisio Gomes a fundo

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22/11/2011

Pio Redondo




 Neste último final de semana, a reportagem do Midiamax acompanhou de perto toda a intensa movimentação dos kaiowás guaranis, diretamente no local onde o cacique Nisio Gomes foi assassinado, segundo informações dos próprios índios que sofreram o ataque de um bando de 40 homens armados, na manhã da última sexta-feira.

 Mesmo com a proibição de gravações pela PF, a reportagem acompanhou o depoimento da principal testemunha do caso, Valmir Cabreira, filho de Nisio, na distância determinada pela equipe liderada pelo delegado Alcídio de Souza, da Delegacia de Defesa Institucional da PF no MS. 

 Enquanto mais índios chegavam à área de intensa mata verde, e faziam seus rituais religiosos no Tekoha Guaiviry - que fica entre as fazendas Chimarrão, Ouro Verde e Querência - o delegado da PF questionou Valmir sobre os fatos relativos ao crime. Enquanto isso, soldados da Força de Segurança Nacional que escoltavam os dirigentes da Funai armados com fuzis automáticos garantiram a segurança de Valmir durante o depoimento. 

 Solicitando sinceridade absoluta e muita concentração para lembrar todos os detalhes do ataque, o delegado solicitou que ele descrevesse a cena do massacre, em detalhes, mais de uma vez. Valmir reafirmou o que vem dizendo publicamente: que uma caravana de caminhonetes chegou ao local pela manhã; que alguns homens tomaram a frente do grupo, entre eles um paraguaio; e que no momento em que os tiros começaram o pai gritou para alertar os 60 índios do grupo, para que se protegessem na mata fechada. 

 Mais adiante, o filho do cacique disse que os homens ordenaram que Nisio deitasse no chão e o fuzilaram ali mesmo, com tiros na cabeça, peito, braços e pernas. E concluiu dizendo o bando colocou o corpo numa caminhonete Hilux prata e foram embora. Ainda na sexta-feira, no local do crime, a perícia encontrou o chapéu verde-amarelo de Nisio com um furo que seria de bala e marcas de sangue. 

 Sumir com o corpo é expediente comum na região, diz Funai 

 Sobre o assassinato do cacique, Silvio Raimundo da Silva, dirigente da Funai em Ponta-Porã, afirmou que “esse expediente de sumir com o corpo é reincidente aqui na nossa região, basta a gente ver casos como os dos professores do acampamento Ipui, até hoje está lá o crime ainda não solucionado, e agora aqui, a liderança do seu Nisio Gomes, que é bastante respeitado na região, pelas lideranças indígenas e pela Funai”.

 “Mas o que queremos saber é que a polícia tenha condições de elucidar esse desaparecimento, e sabemos que a PF quer chegar a uma solução, para que esse não seja mais um caso não solucionado”, garantiu. 

 Funai procura pai de crianças desaparecidas

 Outro ponto central do depoimento de Valmir foram as suas declarações bombásticas dando conta que três crianças foram levadas junto com o corpo de seu pai, vivas, para lugar ignorado. Segundo ele, até agora não foi possível localizar os pais das crianças, porque os pais estão em fuga para aldeias da região – uma possibilidade confirmada pela Funai. Mas a fundação quer encontrá-los, primeiro, para esclarecer as circunstâncias da denúncia, considerada brutal. 

Presença de veículo chapa branca é alvo de investigação da PF 

 Um dos pontos mais contundentes das declarações de Valmir foi a presença, no local do crime, de uma caminhonete Ranger que, como as demais, tinha um pedaço de papelão tampando as placas do veículo. Mas na Ranger, segundo ele, foi possível visualizar uma parte da chapa, que era branca – e possivelmente oficial. 

 O delegado Alcídio de Souza também quis saber sobre a declaração de Valmir, de que na caminhonete havia o símbolo de uma ave, parecida com um gavião, que também figurava na roupa de um homem uniformizado. 

 “O símbolo, a ave”, inquiriu o delegado, a quem Valmir respondeu positivamente, reafirmando a sua versão. E com mais um detalhe: erguendo os braços em paralelo, ele descreveu o percurso da suposta viatura oficial, que contornou a Hilux por trás, parando do lado direito dela. 

Na lavoura de soja defronte a mata onde os índios estão refugiados, existem muitas marcas de pneus. 

 Famílias chegam ao local com a promessa de não sair 




 Em relação à chegada de mais famílias na área, com mulheres e crianças pequenas, o dirigente da Funai relatou a forte convicção dos kaiowás guaranis: 

“Os indígenas já estão certos de não sair da área. Eles reafirmam isso, que é terra tradicional deles, que eles não pretendem sair daí porque estão dispostos a resistir”. Diante de um pequeno monumento religioso de madeira, com um emblema, os índios praticavam seus rituais. 

Os jovens adolescentes portavam arco e flecha, e ervas venenas para passar nas pontas. Silvio da Silva, no entanto, fez questão de pontuar uma diferença entre índios e o bando de assassinos que aterroriza a região: 

“eles são um povo pacífico, eles não estão aí pegando em armas, a arma deles é o maracá, é a reza, é o canto, são os rituais, diferente de quem ataca, que tem arma de fogo, armas letais, que ferem e que matam e, com certeza, fazem tudo aquilo que está á margem da lei”.

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