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27/10/2011
Flávio Verão
DOURADOS
Indígenas da Tey Cuê denunciam que alimentos entregues são de péssima qualidade Foto: Hedio Fazan
A falta d’água e de alimento nas aldeias sul-mato-grossenses é crônica. Em Dourados, é comum as bombas dos reservatórios queimaram, obrigando milhares de indígenas procurar córregos para matar a sede.
Alternativa
Comida
Flávio Verão
DOURADOS
Indígenas da Tey Cuê denunciam que alimentos entregues são de péssima qualidade Foto: Hedio Fazan
A falta d’água e de alimento nas aldeias sul-mato-grossenses é crônica. Em Dourados, é comum as bombas dos reservatórios queimaram, obrigando milhares de indígenas procurar córregos para matar a sede.
Outro agravo é a entrega da cesta básica, que chega com atraso. Esses problemas foram sanados na semana passada nas aldeias Jaguapiru e Bororó, em Dourados. O problema é que sempre se repete.
Ontem O PROGRESSO esteve na aldeia Tey Cuê, em Caarapó, e constatou que os indígenas também amargam o mesmo problema.
A reclamação por falta de benfeitorias é grande, não se resume a água e alimentos, essenciais para a vida humana.
Faltam médicos nos postos de saúde da aldeia, bem como medicamentos. A aldeia Tey Cuê tem aproximadamente 5.400 indígenas em um território de 3.600 hectares.
Alécio Soares Martins é professor indígena. Segundo ele, a bomba d’água estragou há 20 dias e durante esse tempo nada foi feito.
“O pessoal veio aqui e mexeu na bomba mas água que bom até agora nada”, disse ele. A Secretaria Espe-cial de Saúde Indígena (Sesai) é responsável pela saúde indígena, bem como pela manutenção da rede de água.
Na escola onde o professor leciona a água é racionada. Está restrita somente para as crianças e na preparação da me-renda. “Porém está quase acabando. Sorte nossa que o reservatório é de grande capacidade”, ressaltou. A comunidade escolar se reuniu ontem em frente a escola para protestar contra a falta d’água.
Alternativa
Como alternativa, os indígenas recorrem aos córregos da aldeia para matar a sede, tomar banho e realizar afazeres domésticos, como lavar roupas e louças.
O consumo da água já está provocando diarréia nas crianças. Sirlene Veron, 24 anos, diz que seus dois filhos apresentaram problemas de saúde devido a água suja. “Sem alternati-va tomamos água com gosto de argila.
A minha filha mais nova está inclusive com Hepatite A”, disse ela, ressaltando que a doença foi diagnosticada esta semana.
A Hepatite A é uma doença aguda do fígado, causada por vírus. A transmissão é feita por alimentos mal-preparados e água contaminada.O coordenador da Sesai em Mato Grosso do Sul, Nelson Olazar, disse que está ciente do problema. “Já solicitamos uma equipe para consertar a bomba”, argumentou.
Comida
Outro grande problema da Aldeia Tey Cuê é quanto os alimentos entregues pela Funai e Governo do Estado. Eles es-tão indignados quanto a qualidade dos produtos, considerados de péssima qualidade.
“O feijão não cozinha, o arroz vira um mingau e o charque que entregam sempre é vencido”, disse a indígena Sofia Duarte, de 54 anos.
Ela mostrou à reportagem o pacote dos alimentos. O feijão marrom, que na embalagem informava ser do Tipo 1, apa-rentava ser produto velho, pela cor escura e a casca soltando.
Alguns pacotes tinham caruncho. Já o arroz, também do Tipo 1, é quebradiço, praticamente como quirera. Os dois estavam dentro do prazo de validade, pelo menos é o que in-formava o carimbo das embalagens.
As indígenas também mostraram o pacote de feijão, que segundo eles, é distribuído pela Funai. Embalado numa sacola sem o selo de empresa, o produto é misturado a terra e outros detritos.
A indígena Sirlene Castro, de 24 anos, diz que o arroz e o feijão é um tormento na hora de cozinhar. “O que dá pra aproveitar é o arroz; já o feijão fica duro”, relatou. Ela questiona a retirada da marmelada, da sardinha e da erva, que faziam parte da cesta básica.
“Agora só mandam o arroz, feijão, charque, óleo, sal, açúcar, macarrão e leite em pó”. A coordenação regional da Funai, sediada em Dourados, foi procurada para falar sobre a qualidade dos alimentos e sobre o atraso da cesta básica. Maria Aparecida Mendes de Oliveira estava com a agenda lotada de reuniões e não pôde atender a reportagem.
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