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11/12/2011 17:00
Agencia EFE
Aday López. Marabá (Brasil)
EFE
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Aday López. Marabá (Brasil)
Sob a ameaça de perder sua cultura e suas raízes, uma aldeia indígena brasileira realiza o lançamento de um livro e um vídeo que imortalizam seus hábitos e criam uma gramática de sua língua para salvá-la da extinção.
O idealizador do projeto foi o cacique Krohokrenhum, líder dos Parkatejê, uma remota comunidade formada por cerca de 400 pessoas em um terreno de 62 mil hectares no coração do estado do Pará.
'Graças a Deus, os jovens já podem aprender palavras da língua e as canções indígenas', relatou o cacique a jornalistas.
Ele é chamado carinhosamente de 'Capitão' por seu povo, e apesar de seus 80 anos continua comandando a comitiva que sai em caçadas para conseguir o sustento da tribo.
O livro de 196 páginas tem capítulos dedicados aos sábios conselhos de Krohokrenhum e às histórias de luta, adversidades e conquistas do seu povo, que festeja com alvoroço e emoção a finalização da obra, elaborada durante meses.
A árdua tarefa de coordenar o trabalho linguístico do Jê Timbira, o idioma autóctone, foi responsabilidade de Leopoldina Araújo, que chegou pela primeira vez na aldeia há 37 anos com o desejo de estudar a língua indígena, à qual dedicou seus estudos de pós-graduação.
'O livro está dedicado às futuras gerações', disse Leopoldina à agência Efe, antes de detalhar as dificuldades pelas quais o projeto passou e alertar sobre as 'agressões' sofridas pelos idiomas autóctones como o dos Parkatejê.
Leopoldina afirmou que o trabalho linguístico, repartido entre os aldeães, colaboradores e associações que defendem a causa indígena, foi guiado pela preocupação de que a gramática fosse a mais fiel possível à fonética do Jê Timbira.
Além de preservar um idioma que enfrentava o risco de extinção, a importância da obra é que seus autores foram jovens da comunidade, capacitados por profissionais em métodos como o recolhimento de informação e a transcrição.
O livro ganhou ainda fotografias históricas nas quais se aprecia as singularidades da comunidade e ilustrações desenhadas pelos aldeães, coordenados durante meio ano por Guilherme Noronha.
'O resultado foi um trabalho que saiu dos indígenas. Eu me limitava a propor e eles decidiam', declarou Noronha enquanto as aldeãs preparavam com zelo o menu do jantar, composto por macaco e caititu, despedaçados a machadadas.
'Tudo isto é um sonho. Crescemos muito no conhecimento e agora inclusive estamos preparados para fazer um livro', destacou emocionada Fátima Krohokrenhum, filha do cacique, maquiada da mesma forma que o restante da aldeia, com uma chamativa pintura vermelha salpicada por desenhos de cor negra que decoravam seu corpo.
A gravação de um vídeo em DVD, que foi filmado por um grupo de seis indígenas, era uma obsessão e outro dos desejos do 'Capitão' para que seu povo não perdesse sua história.
'Este trabalho pode se transformar em um incentivo para que os jovens continuem trabalhando no futuro.
É um legado para a comunidade', manifestou o coordenador da equipe, Vicent Carelli, a jornalistas convidados pela empresa mineradora Vale.
Carelli, um parisiense estabelecido no Brasil que entrou em contato com a aldeia há décadas, afirmou que o processo de formar os aldeães para que desempenhem com sucesso sua função levou tempo e acrescentou que este trabalho evidenciou o temor que existia entre os aldeães de perder seus costumes.
O lançamento destes projetos foi realizado na sexta-feira com uma festa que contou com a presença de comunidades indígenas vizinhas e na qual o capitão Krohokrenhum foi recebido com honras por seu povo, que mostrou uma grande veneração por seu líder, entoando cânticos ancestrais.
EFE
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