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DE SÃO PAULO
Enquanto em países vizinhos as populações indígenas representam uma fatia considerável da pizza demográfica, no Brasil elas são uma porcentagem vencida. Cerca de 0,2% dos brasileiros são ameríndios.
Colaborou FLÁVIA MARREIRO, de São Paulo
27/12/2011 - 13:13
DIOGO BERCITODE SÃO PAULO
Enquanto em países vizinhos as populações indígenas representam uma fatia considerável da pizza demográfica, no Brasil elas são uma porcentagem vencida. Cerca de 0,2% dos brasileiros são ameríndios.
No Peru, são 25% ou 5 milhões de habitantes, a maior população indígena em termos absolutos da América do Sul. Na Bolívia, 62,2% se autodeclaram indígenas. No Equador, o percentual estimado é de 30%.
O pequeno percentual relativo e a distribuição geográfica são apontados como fatores para o enfraquecimento do movimento indígena nacional.
Há, também, a variedade cultural. São 215 etnias no Brasil, falando 180 línguas, segundo o IBGE.
Esses percalços explicam, para especialistas ouvidos pela Folha, as dificuldades encontradas na articulação desses grupos, no país, em contraste com a força exibida pelas organizações indígenas dos vizinhos, em especial os andinos.
Mesmo comparando os brasileiros com os vizinhos em condições semelhantes --a miríade de etnias na Amazônia peruana e boliviana, e não os majoritários ou quase quéchuas e aimarás--, o movimento nacional sai perdendo.
E a principal razão é a consolidação de redes nacionais na Bolívia e no Equador e agora, como tentativa, no Peru, com o Pacto Nacional, que reúne cinco organizações.
No caso boliviano, está a Cidob (Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia), que reúne os grupos minoritários das "terras baixas", incluindo Amazônia e planícies. Há mais de duas décadas, a Cidob se articulou com os indígenas das "terras altas", no chamado "pacto de unidade", para exigir uma plataforma comum: uma nova Constituição, que seria aprovada em 2009, sob Evo Morales.
Os povos reunidos na Cidob não têm o peso eleitoral dos aimarás e quéchuas --a maioria dos bolivanos--, mas, ainda assim, com o peso adquirido na luta pela Constituinte, capitanearam campanha que obrigou Morales a modificar o trajeto de uma estrada que cortaria uma reserva, a Tipnis.
A rodovia está sendo construída pela brasileira OAS e já tinha garantido
financiamento do BNDES de US$ 332 milhões, agora suspenso.
TENTATIVAS BRASILEIRAS
Egon Heck, do Conselho Indigenista Missionário do Mato Grosso do Sul, conta que, desde a década de 70, as organizações brasileiras tentam agrupar lideranças regionais em um movimento nacional.
A UNI (União das Nações Indígenas), criada em 1980, não resistiu à década seguinte. "A entidade foi se esvaziando por não conseguir consolidar suas bases nas diferentes regiões", diz.
"As distâncias são enormes", afirma, "e isso implica em custos para manter a unidade entre diferentes povos".
Os anos seguintes viram a ascensão e queda de outras entidades nacionais. A última tentativa unificadora é a a Apib (Articulação dos Povos Indígenas no Brasil), de 2005.
Heck vê essa entidade com otimismo, apontando maior integração com os movimentos regionais.
O órgão é formado de modo a tentar pôr de lado as divergências entre as tribos, encontrando causas comuns. A diretoria é formada pelos líderes das agrupações regionais.
"Tentamos construir uma coisa que é impossível: a unidade do movimento indígena", avalia Uilton Tuxá, dirigente da Apib e coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo.
Respeitados os limites para essa união, porém, Tuxá comemora seus avanços. "Hoje, fazemos lobby no Congresso.
Nossa ausência em Brasília, no passado, favoreceu um cenário equivocado contrário ao índio."
BUROCRACIA
A pesquisadora Poliene Bicalho mapeou, em tese de doutorado na UNB, cerca de 400 organizações indígenas no Brasil.
A exemplo de Tuxá, ela aponta a impossibilidade da unificação do movimento.
"Há diferentes maneiras de esses povos perceberem os aspectos que os atingem", afirma. "Eles nem sempre falam as mesma línguas ou têm os mesmos interesses."
Além disso, há um descompasso cultural entre os modelos de burocracia do "homem branco" e aqueles dos índios, afirma Poliene, resultando em dificuldade para a constituição de entidades formais. "A ideia que temos de organização hierárquica é diferente da deles."
Colaborou FLÁVIA MARREIRO, de São Paulo
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