segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Questão indígena: deputados federais vieram para Dourados investigar violência

IMPRIMIR ESTA PAGINA

05/12/2011 11:00
Dourados News



Os três deputados ficaram dois dias em Dourados


 Parlamentares que participam da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados estiveram durante dois dias em Dourados e região para colher depoimentos de indígenas e se interarem da realidade de violência que os índios da etnia Guarani e Kaiowá vem sofrendo. 

 Os três deputados, todos do PT, são Domingos Dutra (MA), Padre Ton (RO) e Érica Kokay (DF). Padre Ton é presidente da Frente Parlamentar de Defesa dos Povos Indígenas. Os três não mostraram conhecimento da cultura dos povos em questão, porém, demonstraram boa vontade e sugestões que poderiam acabar com o problema. 

 “Gostaríamos de estar aqui em outra situação, não nessa de violência contra os primeiros donos desse país”, afirmou Dutra. Érica Kokay lembrou que os índios vem sendo vítimas de violência ao longo dos séculos. “Não podemos permitir o retorno de uma história que o Brasil precisa sepultar, sobre a pena de não consolidar a democracia pela qual tanto lutamos”, defendeu Érica. 

 De 2003 à 2010, morreram 250 indígenas no Mato Grosso do Sul, vítimas de disputas pela terra e de confrontos internos nas Reservas Indígenas do Estado. O número, segundo o Conselho Indigenista Missionário – Cimi, da Igreja Católica, corresponde à 55,5% dos assassinatos de índios registrados no mesmo período em todo país. 

 Os parlamentares visitaram quatro acampamentos indígenas em Rio Brilhante, Coronel Sapucaia, Aral Moreira e Iguatemi. Nesses locais, colheram depoimentos, filmaram e fotografaram as condições de vida dos indígenas e saíram com dados que darão origem à um relatório e à uma possível audiência com a presidenta Dilma Roussef. 

 Relatos

 Da indígena M.B., de Iguatemi, os deputados escutaram depoimentos em guarani e um choro de revolta. Ela é idosa e diz lembrar de onde estão enterrados os antepassados dela, às margens do Rio Iguatemi. “Me dói olhar onde estão enterrados minha mãe, minha vó, meu pai, sendo pisoteados por bois. 

Por isso voltamos para a terra, porque é nossa”, explicou em meio à soluços, justificando porque junto com mais de uma centena de indígenas voltou para uma fazenda de onde dizem ter sido expulsos há décadas trás, quando ela era adolescente. Em Kurusú Ambá, região de Coronel Sapucaia, novos relatos. 

Lá morreram quatro pessoas, quatro foram baleadas e um criança ficou sequestrada por 20 dias. Os índios atribuem os crimes à um grupo de fazendeiros da região que caso a Justiça entenda que ali é uma terra indígena, perderia parte de suas propriedades. Um dos sobreviventes, anda com dificuldade e mancando. 

A bala afetou sistema nervoso do rapaz. A mãe dele, uma idosa que era líder religiosa da comunidade e que conhecia os limites da antiga terra, foi morta pouco tempo antes dele ser baleado. Segundo eles foram três ataques. 

Raul pai e Raul filho apontados com as setas 

Clima esquenta em Rio Brilhante e fazendeiro tenta barrar deputados

 A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, formada pelos petistas Domingos Dutra (MA), Padre Ton (RO) e Érica Kokay (DF) foram barrados na entrada de uma fazenda em Rio Brilhante, que pertence à família do presidente do PT naquela cidade, José Raul Das Neves Junior, Raulzinho. 

 Os deputado estavam acompanhados de cinco viaturas e eram aguardados por famílias do acampamento Ñderú Laranjeira na entrada da fazenda. Ali, o fazendeiro Raul das Neves, o pai de Raulzinho colocara um tronco de aroeira, que assim que as autoridades chegaram, foi arrancado. Quando os deputado se preparavam para entrar, chegaram pai e filho e colocaram o carro deles na entrada da fazenda. 

 Porém, não é a fazenda deles que está sendo pedida pelos quase 170 índios da Ñderú, e sim a que fica no fundo da fazenda deles. Mas, para chegar até lá é preciso passar pela propriedade dos dois e eles não queriam que as autoridades passassem. Eles se assustaram e acharam que se tratava de uma missão para incluir a fazenda na lista de possíveis terras indígenas.

 A partir daí travou-se uma discussão que em determinado momento levou o deputado Dutra a ameaçar de prender Raul pai. Depois de quase 15 minutos de conversa, os proprietários deixaram passar a comitiva. A fazenda está na margem do Rio Brilhante, marco natural que delimitaria o início das terras Guarani e Kaiowá até a fronteira com o Paraguai. “Nào posso nem andar mais na mata da minha fazenda. 

Olha a cara desse índio. Qualquer hora vai acontecer uma tragédia aqui e a culpa vai ser de quem? (...) Vocês vem aqui com um Exército para intimidar”, disse ele. Depois da visita, na volta, a comitiva foi parada por pai e filho mais uma vez. 

Raul filho afastou o pai do carro da comitiva e disse que cuidaria para que o direito de passagem dos índios por dentro da fazenda deles será mantido. “Se fazem isso com autoridades federais, imagina com os índios?”, questionou Domingos Dutra. 

Mais cedo, na Universidade Federal da Grande Dourados, ele já havia dito que levaria o caso de Rio Brilhante para a executiva nacional do PT. “Não foi por esse tipo partido que demos a nossa vida”, explicara. A Redação acompanhou a visita aos acampamentos de carona em veículos oficiais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Parabéns Mato Grosso do Sul, estado em pleno desenvolvimento

  11 de Outubro - 2022  23:23 Por; Cultura Nativa - MS